A papelaria foi passando de geração em geração e, décadas mais tarde, era o neto de Manoel Araújo que geria a loja. Ao oferecer sociedade aos sobrinhos, acabou por batizar a marca com o nome pelo qual ainda hoje é conhecida. O edifício onde o negócio se encontrava sempre pertenceu à família Araújo e, com o desenvolvimento da atividade, a vida familiar misturava-se com o vai e vem de gentes, com as encomendas, com aquele típico burburinho do comércio de proximidade, que preenchia os três primeiros andares.
É neste ambiente que surge o presente proprietário da loja, Miguel Araújo. Desde cedo, teve contacto com o mundo do papel e da tinta, através do seu pai, que o levava a feiras importantes na Alemanha, Itália e Paris aprimorando assim o gosto pela área. Já na idade adulta trabalhou num armazém de papelaria, a que se seguiu a Firmino Santos e Carvalho onde esteve durante 10 anos e onde adquiriu experiência substancial. Sempre sedento de conhecimento, resolveu descobrir o comércio numa esfera internacional, ao trabalhar no projeto de um amigo. Mas claro que, olhando para o seu futuro, Miguel Araújo não pôde deixar de pegar na tocha que era o legado da família dando continuidade ao negócio.
Durante a sua gestão testemunhou a evolução do negócio, desde a informatização dos gabinetes de arquitetura, que eram alguns dos seus clientes mais assíduos, até ao domínio do sector por grandes grupos. No entanto, soube sempre adaptar-se às novas exigências, ao comercializar, por exemplo, material especializado para design e arquitetura. Miguel Araújo fez questão ainda de contar com o apoio das pessoas que o viram nascer e tão bem o conheciam: os colaboradores do seu avô, pessoas com, por vezes, décadas de casa e insubstituível experiência, assim como uma enorme sabedoria na área.
Relembra com um sorriso vários episódios marcantes do negócio, como o senhor que lá trabalhava e certo dia levou canetas que davam choque para divertimento de colaboradores e clientes, ou os tempos em que começou a alugar espaços a estudantes no edifício, que se encontrava um pouco vazio. Rapidamente, o prédio começou a parecer uma autêntica república, e com a vida que essa nova dinâmica trouxe ao bairro (e alguma algazarra), houve também novas ofertas para adquirir o espaço, desde particulares a grandes negócios. Apesar de alugar pontualmente espaços, Miguel fez, contudo, finca-pé à venda por dois motivos: não queria desfazer-se do edifício que sempre tinha pertencido à família, nem queria que a papelaria mudasse de sítio. Aquele local era no fundo, uma parte integrante da memória coletiva da invicta. Quando Miguel Araújo nos confessa que não 'tinha o direito de fechar a loja', sabemos estar perante um comerciante que valoriza não só o seu legado, como a história de uma cidade e o seu próprio papel nela.
Quis, porém, o destino que o nosso empreendedor encontrasse parceiros que soubessem respeitar a faceta centenária do seu negócio e tudo o que representava. Um arquiteto que já tinha tido um atelier no seu prédio, mencionou-lhe um grupo de Fátima ligado à hotelaria, o grupo Lux Hotels, que parecia a escolha ideal. E é assim que nasce, em Março de 2015, esta parceria no edifício da família, surgindo então o Porto A. S. 1829 Hotel, dando continuação à papelaria agora numa escolha mais otimizada da sua oferta e continuando com o símbolo da sua fundação, o cavalo-marinho, símbolo de sorte e de honestidade.
Muitos estudantes, designers e arquitetos guardam ternas memórias de juventude deste local centenário, quando visitavam os seus recantos e se maravilhavam com o universo de material das melhores marcas expostas em armários, estantes e vitrines lindíssimas, que ainda hoje se encontram na loja e por todo o espaço do Porto A. S. 1829 Hotel, inclusivé no Restaurante Galeria do Largo, outrora uma Galeria de arte, onde artistas da terra expunham os seus trabalhos, é agora uma montra de sabores que convida a uma viagem pela gastronomia lusa. Outros recorrem à papelaria, na confiança de que seja o local ideal para material de design, fine art, papelaria e escritório. E há ainda aqueles, que nunca tendo conhecido a loja, ficam maravilhados com a sua beleza e profissionalismo de quem lá trabalha.
Por todos estes motivos, Miguel Araújo continua a estar atrás do balcão, sempre disponível, sempre bem-disposto, nunca desistindo da sua maior ambição - perpetuar o negócio de família, que continua a encantar o Porto e todos os seus clientes.
Deixe-se encantar, pois a tradição ainda é o que era!
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